ARTIGOS
MOMBAÇA: 155 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA*
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Fac-símiles
da ata de instalação da Vila de Maria Pereira, ocorrida
em 15 de janeiro de 1853. (Fotos: Fernando Cruz) |
“A
história não é uma arte. É ciência pura.
Não consiste em narrar agradavelmente ou em dissertar com profundidade.
Consiste, como toda ciência, em constatar os fatos, analisá-los,
compará-los e ressaltar a ligação entre eles.”
(Fustel de Coulanges).
A
pequena povoação de Maria Pereira que fora desmembrada da
vila de Quixeramobim, sob protestos da mesma, e elevada à categoria
de vila através da Resolução ou Lei nº. 555,
de 27 de novembro de 1851, sancionada pelo então presidente da
província do Ceará, Dr. Joaquim Marcos de Almeida
Rego, amanhecera em festa: era o dia 15 de janeiro de 1853.
No
ano anterior, a 7 de novembro, em eleição tumultuada que
deveria ter acontecido no dia 7 de setembro (consta que o presidente Rego
arbitrariamente prorrogara a eleição da câmara e de
juízes de paz desta freguesia para que o padre
Antônio José Sarmento Benevides pudesse
assisti-la), o Partido Conservador elegeu os sete vereadores que comporiam
a 1ª Câmara Municipal da nova vila. Segundo o jornal “O
Cearense”, de tendência liberal, foi necessário reforçar
o destacamento com uma tropa de linha para que o padre Sarmento
(deputado provincial em oito legislaturas) não deixasse entrar
na igreja, local da votação, um só oposicionista,
além de processarem clandestinamente o coronel Rodrigo
Francisco Vieira e Silva (bisavô paterno do ex-prefeito
de Mombaça Walderez Diniz Vieira [1977-1983]),
líder do Partido Liberal, para que o mesmo não pudesse comparecer
à eleição.
O saudoso
Prof. Francisco Alves de Andrade e Castro, um ilustre
mombacense, no seu poema “Saga dos Sertões de Mombaça”,
descreve:
“Padre
Sarmento Benevides,
nomeado
Vigário da Freguesia
de
Nossa Senhora da Glória,
trazendo
família letrada
e
política da Paraíba,
recomendou
a enxertia
do
seu Clã no outro Clã.
Fazendo
eleições dentro da Igreja
o
presbítero de Nosso Senhor,
Conselheiro
da Ordem de Cristo,
elegeu-se
deputado em oito legislaturas
da
Assembléia Provincial,...”
O
ano de 1853 se prenunciava como regular, com chuvas suficientes para fazer
correr os rios e encher as lagoas, proporcionando pasto para os animais
e legumes para os habitantes da vila de Maria Pereira.
A
vila, segundo Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, no seu “Ensaio
Estatístico da Província do Ceará”, “é
um pequeno povoado desvantajosamente situado n’uma baixa, à
margem do rio [Banabuiú], com umas 80 casas e uma pequena igreja,
que serve de matriz. Tem duas escolas primárias, uma para o sexo
masculino e outra para o feminino”.
Por
volta das nove horas da manhã, sob uma temperatura de aproximadamente
30,5º C, do dia 15 de janeiro de 1853, os vereadores Manoel
Procópio de Freitas (que seria o seu 1º presidente),
João Alves de Carvalho Gavião, José Gonçalves
de Carvalho, José Joaquim [de Sá e] Benevides e Antônio
Cláudio de Almeida se reuniram na casa destinada para a Câmara
Municipal, conforme descreveu o secretário Julião Antônio
Guimarães na ata de instalação da nova vila de Maria
Pereira. Naquela data, a Câmara Municipal tomou posse e entrou em
exercício, assim como, de fato, instalou-se a nova vila, emancipando-se
político-administrativamente da vila de Quixeramobim.
Além
dos já mencionados, estavam presentes na sessão solene que
oficialmente instalou a vila de Maria Pereira, atual Mombaça, o
padre Antônio José Sarmento Benevides, o padre Luís
Barbosa Moreira, João Abreu de Carvalho Tatajuba, Bernardino Lopes
de Morais, Francisco Aderaldo de Aquino (bisavô materno do ex-governador
do Estado do Ceará Plácido Aderaldo Castelo
[1967-1971]), Antônio Benedito de Paula, José Vitorino de
Lima Galuxo, Manoel Rabello Vieira, Francisco Pedro de Freitas, José
Ferreira Marques, José Franklin, Antônio Lourenço
Tavares Benevides, Fructuoso Lopes de Fontes Braga (trisavô paterno
do ex-senador e atual deputado federal Carlos Mauro Cabral
Benevides), Manoel Joaquim Cavalcante, Antônio
de Lemos Almeida, José Francisco de Menezes e Francisco de Goes
e Mello.
Contrariando
a historiografia oficial de Mombaça, quanto a datas e fatos ocorridos,
os documentos originais da Câmara Municipal de Maria Pereira pertencentes
ao acervo do Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC) nos
levam a afirmar que a data de fato da criação da vila de
Maria Pereira é 15 de janeiro de 1853 e que o 1º presidente
da Câmara Municipal foi Manoel Procópio de Freitas
(pai do desembargador Américo Militão de
Freitas Guimarães, 1º vice-presidente da província
do Ceará e que, com a morte do Dr. Antônio Caio
da Silva Prado, assumiu a presidência no período
de 25 de maio a 10 de julho de 1889, quando a entregou ao presidente nomeado,
senador Henrique Francisco d’Ávila). Manoel Procópio
de Freitas era o bisavô paterno do Sr. Francisco Sidrião
de Alencar Freitas, o Chico Alencar (eleito vereador
da Câmara Municipal de Mombaça, a 3 de outubro de 1950, pela
União Democrática Nacional – UDN, com 253 votos, para
o período de 1951-1955), a quem dedico este artigo.
*Publicado
resumidamente no caderno "Jornal do Leitor", do jornal (Fortaleza-Ce), em 26/01/2008; Publicado na íntegra
na Revista da ASBRAP nº 14, p. 65-70.
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