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ARTIGOS

PAES DE ANDRADE, UM MOMBACENSE

 


Fernando Cruz e o ex-embaixador do Brasil em Portugal Antônio Paes de Andrade por ocasião do lançamento do livro “O Itinerário da Paz” na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), em 13 de março de 2008.

Fernando Antonio Lima Cruz

Publicado em 07/04/2024.

Desde muito cedo acompanhei a trajetória política do mombacense Antônio Paes de Andrade, emedebista, defensor das liberdades democráticas, componente do Grupo Autêntico do MDB, que era formado por 23 deputados federais, entre os quais Alencar Furtado, Lysâneas Maciel e Marcos Freire, que fazia uma oposição mais firme ao regime militar.

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de Mombaça, tem origens no antigo Partido Social Democrático (PSD), fundado em 17 de julho de 1945 pelos interventores nomeados por Getúlio Vargas no Estado Novo e extinto em 27 de outubro de 1965, como os demais partidos políticos em funcionamento, pelo Ato Institucional nº 2. Segundo Lúcia Hipólito, o PSD era um partido político de âmbito nacional “voltado para as posições de centro, o entendimento e o pragmatismo, para o realismo político, enfim”.

Com a extinção do sistema multipartidário, o advento do bipartidarismo e a criação da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), os antigos pessedistas mombacenses, sob a liderança de Francisco Martins de Melo Sobrinho (1896-1982), o “coronel” Chico Martins, ex-prefeito municipal de Mombaça nos períodos de 1935-1936 e de 1937-1939, de Francisco Castelo de Castro (1922-1990) e de Antônio Paes de Andrade (1927-2015), que despontavam nos cenários políticos estadual e nacional, ingressaram nas fileiras do MDB.

Mesmo sem ter filiação partidária, me mantive, assim como meu saudoso pai, Etevaldo Lima Cruz (1935-2010), ao longo dos anos, com uma posição político-partidária alinhada com o pessedismo e o emedebismo mombacenses. Um “ponto de equilíbrio” nas questões de relevantes interesses públicos locais e nacionais.

No dia 25 de fevereiro de 1989 fui testemunha ocular da sua visita a Mombaça como presidente da Câmara dos Deputados e substituto constitucional do presidente José Sarney, a primeira das 11 vezes em que assumiu a interinidade da presidência da República, quando inaugurou o prédio da agência do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Visita esta que foi duramente e despropositadamente criticada pela imprensa sudestina. Era a visita do coração. Do filho vencedor que retornou à sua casa, às suas raízes mombacenses.

A Paes de Andrade nós, mombacenses e cearenses, lhe somos gratos pela construção do açude Serafim Dias (um sonho acalentado pelos mombacenses por quase um século, projetado inicialmente em 1910 e inaugurado em 20 de outubro de 1995, solucionando a crise hídrica da sede do município de Mombaça) e pela construção do açude Castanhão (o maior reservatório d'água do país, que exerce papel preponderante na economia do Ceará), cuja assinatura das ordens de serviço ocorreram em suas interinidades na presidência da República.

Durante dez anos, entre 2005 e 2015, tive o privilégio da sua amizade e de algumas horas de conversa sobre memórias, política e, especialmente, Mombaça, em sua residência de Fortaleza. As reminiscências da infância; os banhos no rio Banabuiú (em cujas margens se deu o início do povoamento de Maria Pereira, atual Mombaça, em 1706); o tracoma, uma doença inflamatória ocular, que lhe deixou sequelas; a vocação política iniciada na juventude e a sua primeira candidatura a deputado estadual, em 1950, ainda como estudante da Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, que lhe garantiu uma vaga de suplente na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece); os muitos embates políticos que o tornaram um “predileto das urnas” (com 3 mandatos de deputado estadual e 8 mandatos de deputado federal), apesar das derrotas para a Prefeitura Municipal de Fortaleza e para o Senado Federal. Enfim, uma carreira política vitoriosa que o alçou à condição de embaixador do Brasil em Portugal, de 2003 a 2007, e presidente nacional do PMDB, em 1994.

Paes de Andrade também me concedeu a honra de assinar a apresentação do livro “Padre Sarmento de Benevides: poder e política nos sertões de Mombaça (1853-1867)”, editado em 2010, pela Expressão Gráfica e Editora, onde cita no último parágrafo: “O autor nos remete às nossas raízes mombacenses e nos brinda com um texto que se acomoda no recôndito da alma, contribuindo para a historiografia sócio-política do Ceará e, particularmente, para a pouca difundida história dos nossos municípios”.

Obrigado, Paes de Andrade! 





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