ARTIGOS
JOSÉ
ADERALDO CASTELLO: A UNIVERSIDADE BRASILEIRA ESTÁ MAIS POBRE
José
Aderaldo Castello (1921-2011)
Flávio
Aguiar*
Peço
vênia, aos cartamaiores, para prestar homenagem a um grande brasileiro:
o prof. José Aderaldo Castello, da Literatura Brasileira da USP.
Hoje,
terça-feira 13, fiquei sabendo que o prof. Castello, da USP, morreu.
Na verdade, no dia 8.
Fiquei absolutamente
penalizado.
A literatura e a cultura
brasileiras perderam um grande crítico, um grande leitor.
Sobre a obra crítica
dele, ela fala por si. O que dizer diante de uma obra como a Presença
da literatura brasileira, antologia organizada com Antonio Candido?
O que dizer sobre as suas leituras de literatura colonial? E muito mais.
Eu queria evocar aqui
o militante da inteligência. Vamos considerar: o professor Castello
tinha fama de autoritário. Como não? Ele pertencia à
geração de catedráticos antigos da USP. Mas o importante
é o que as pessoas fazem com a tradição a que pertencem.
E o prof. Castello fez o melhor.
Sou testemunha de que
o prof. Castello teve comportamentos democráticos que nunca esquecerei.
Tivemos vários embates, assim, frente a frente, olho no olho, nunca
nos negamos a eles.
Mas
quando o prof. Castello perdia um embate numa escolha democrática,
ele usava o seu poder de catedrático - fosse onde fosse, no Conselho
do Departamento, na Congregação da Faculdade, nos corredores
da USP, para defender o ponto de vista vencedor, que fora contra o seu.
Fiquei
sempre admirado, sobre como aquele professor que tinha tudo para passar
por cima dos seus colegas, demonstrava tanto respeito pela legitimidade
das decisões democráticas. E isso em plena ditadura. Quando
muitos professores da USP se valeram de sua proximidade com os hegemônicos
do momento para oprimir os outros. O prof. Castello nunca agiu assim.
Pelo contrário, sou testemunha de que perseguidos, mesmo quando
ele com eles não concordasse, contavam com seu apoio. Fui um deles.
Quando
ele ganhava, que eu tenha visto, nunca era arrogante. Pelo contrário,
procurava aproximar o adversário derrotado, como se não
fosse tal, mas como alguém que pudesse ser respeitado.
Ficamos
amigos.
Tive
a oportunidade de conviver com o prof. Castello em muitas circunstâncias.
Posso afirmar ainda duas coisas, que depõem sobre a qualidade de
seu caráter e de seu estilo de viver.
Primeiro,
ele era um grande especialista em vinhos. Segundo, era um grande especialista
em cachaças.
Para
um especialista em cultura brasileira isso é fundamental: um pé
em cada mundo.
Saúde,
prof. Castello.
(Publicado
no site ,
em 13/12/2011).
*Flávio
Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em
Berlim.
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