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ARTIGOS
O VERÃO DO SERTÃO CEARENSE, SEGUNDO RACHEL DE QUEIROZ
Sertão
cearense: comunidade rural de Cipó, no município de Pentecoste-Ce.
(Foto: Caroline Avendaño)
Pedro
José Freire Castelo*
Como
todo fazendeiro de fim de semana que se preza, viajei recentemente para
minha fazendola situada no início dos sertões dos Inhamuns,
no muncípio - segundo meu saudoso pai - “na Mombaça
dos meus afetos”.
As
atividades desenvolvidas são de praxe: verificar os currais, o
estábulo, as capineiras, conferir as brocas e a queima das coivaras,
e assim por diante.
Mas,
no período vespertino quando o sol está a caráter,
ou seja, escaldante, não nos moveu outra idéia a não
ser de ficar preguiçando na rede armada no alpendre da casa grande
– maneira de como tradicionalmente os moradores se referem a casa
sede da fazenda. Pois bem, para curtir o ócio nada melhor que uma
boa leitura. Busquei em alguns poucos livros disponíveis e achei
um livro intitulado “ Elenco de Cronistas Modernos”, já
na 7ª edição, onde estão alinhadas crônicas
de Carlos Drumond de Andrade, Manuel Bandeira, Rubem Braga, Paulo Mendes
Campos, Rachel de Queiroz, Fernando Sabino e Clarice Lispector. Um primor
de publicação.
Vamos
ao que interessa! Na crônica de Rachel, intitulada “Verão”,
a renomada autora cearense, registra uma queixa aos que se admiravam com
a sequidão do Nordeste nessa época do ano, querendo aludir
que a sequidão que se visualizava era motivo para admiração
e do aparecimento do fenômeno dos retirantes. Rachel com o domínio
do assunto e das letras mostra de forma interessante que em cada região
do planeta encontraríamos situações peculiares, e
nem por isso as pessoas abandonavam a região onde viviam. Não
se podia e nem se devia confundir o verão com a sêca, pois
são situações completamente distintas. Assim, segundo
ela, o verão é tempo muito agradável, sem chuvas
nem atoleiros, o campo aberto mutiplicado em caminhos, o leito dos maiores
rios vadeáveis a pé enxuto, convidando ao nomadismo que
ainda está perto de nós, já que nós mesmos
ainda estamos tão pertos do índio andejo. E, acrescenta
mais, que não há muriçocas, nem mutucas, nem reumatismos,
etc.
A
autora, mostra ainda, com muita simplicidade, o modus vivendi do sertanejo,
que aproveita o período que compreende o término da colheita
do milho, do feijão, da fava, do algodão e do preparo da
terra para o próximo inverno, para visitar parentes, comparecer
às noitadas da cantoria, visitar São Francisco do Canindé
e as romarias de Padre Cícero, e assim por diante. E eu a me deliciar
com a leitura amena, me balançando na rede – não necessariamente
branca -, mas muito fresquinha até o sol esfriar um pouco, para
ver e conferir o resto das coisas que não foi possível ver
pela manhã.
Mas
que beleza!
Prof. Pedro Castelo
*Pedro
José Freire Castelo. Professor. Filho do ex-governador
do Estado do Ceará Plácido Aderaldo Castelo. |