ENFOQUE
POR QUEM OS SINOS DOBRAM?
Raugir Lima Cruz*
Os
sinos dobram por todos nós mombacenses. Acabamos de ficar órfãos
do último de uma geração que levou o nome de Mombaça
além-fronteiras. Foi-se Paes de Andrade, nome que se confundia
com o de sua querida terra.
Paes é de uma
geração de políticos que já não existe
mais. De uma estirpe admirada pelo povo e respeitada por seus pares. Infelizmente
não tão lembrados como deveriam ser. Quem bem define Paes
é o jornalista Carlos Chagas: “A grande característica
de Paes de Andrade é lutar sempre. Jamais se entregar. Resistir
quando tudo parece perdido. Olhar adiante por cima dos cipoais e dos espinheiros”.
Teve uma vida dedicada
à democracia, lutou bravamente contra os desmandos da ditadura
militar denunciando a violação dos direitos humanos. Quantas
vezes, menino admirado, o vi e ouvi em palanque na “Rua do quadro”
(talvez só os que tem mais de 40 anos sabemos os apelidos de nossas
ruas).
Deputado Estadual,
Deputado Federal, Presidente da Câmara Federal de onde alcançou
o cargo maior do país – assumindo a Presidência da
República em doze ocasiões como substituto constitucional
do Presidente titular, Embaixador do Brasil em Portugal, sempre fez questão
de dividir com Mombaça suas vitórias pessoais.
Usando os termos de
Juarez Leitão em seu livro Predileto das Urnas: Paes sempre “voltava
a sua Mombaça, ao rio da infância para conferir os sonhos
peregrinos da saudade e se robustecer de energia atávica”.
Pode-se pensar que não estará mais na festa da padroeira
Nossa Senhora da Glória, contudo, acredito, todo catorze de agosto
se fará presente em espírito no adro da matriz.
Finalizo
divagando por lembranças do menino que fui pelas ruas de minha
terra. Terra de Castelo de Castro, Paulo Benevides, Plácido Castelo
e tantos outros que como Paes enalteceram a terra de Maria Pereira.
Gostaria
de ter o talento do poeta Barros Pinho, como não o tenho passo
a transcrevê-lo: “Ao Paes, a história já
fez justiça em vida. Reservou-lhe tudo, desde a dor de alguma derrota
até a amplidão da glória sempre carregada de muita
alegria e de maior esperança. Na Câmara chegou à Presidência
da República, mas sem se afastar de sua terra, nem perder o jeito
de vaqueiro ou de príncipe da aristocracia rural que bebe vinho
em Lisboa, na Embaixada do Brasil, jogando um olhar melancólico
sobre o Tejo, talvez lembrando o rio Banabuiú de sua infância,
ou amargando uma ideia fixa, com saudade do grupo autêntico da Câmara
Federal. (...) Os caminhos do mundo não são estreitos para
a marca singular desse Aristóteles dos Inhamuns”.
Paes
cumpriu sua jornada cívica. Fica o lamento por não ter repousado
na terra que tanto amou e onde descansam seus antepassados. Assim, Mombaça
vai ficando mais apagada.
(Publicado
no jornal ,
Ano XXXIX, nº 168, Agosto/2015).
Untitled Document
*Raugir
Lima Cruz. Oficial de Justiça da Comarca de Quixelô-CE.
É mombacense de Senador Pompeu, Ceará, onde nasceu no
dia 15 de janeiro de 1966, filho de Etevaldo Lima Cruz e de Francisca
Zeneida Lima Cruz. Graduou-se em Pedagogia na Faculdade de Educação,
Ciências e Letras de Iguatu - FECLI. É bacharel em Direito
e pós-graduado em Direito Penal e Criminologia pela Universidade
Regional do Cariri - URCA. Obteve o 2º lugar no Concurso Literário
Rachel de Queiroz, promovido em 2006 pelo Fórum Clóvis
Beviláqua em comemoração aos 30 anos da sua biblioteca,
com a crônica .
A sua crônica foi publicada na coletânea “Sertão:
olhares e vivências” com os dez trabalhos classificados
no referido concurso. No dia 18 de dezembro de 2007 recebeu o título
de cidadão quixeloense concedido pela Câmara Municipal
de Quixelô. É autor dos artigos "Uma análise principiológica e legal das interceptações telefônicas: a produção probatória à luz do princípio da proibição da proteção deficiente", publicado na edição nº 87, ano XIV, abril/2011, da Revista Âmbito Jurídico e “A aplicação da Willful Blindness Doctrine na Lei 9.613/1998: A declaração livre e a vontade consciente do agente”, publicado no volume nº 9, edição 2011, da Themis, revista científica da Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará (ESMEC).
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