HISTÓRIA
Leitura
do Memorial Histórico de Mombaça
MEMORIAL
HISTÓRICO DE MOMBAÇA - 162 ANOS DE FUNDAÇÃO
Em
12 de outubro de 1706, o capitão-mor Gabriel da Silva do Lago em
nome de Sua Majestade D. Pedro II (1648-1706), “O Pacífico”,
concedeu ao coronel João de Barros Braga, a Maria Pereira da Silva,
a Serafim Dias e demais companheiros a sesmaria de nº. 167 sobre
o rio Banabuiú onde está situado o município de Mombaça,
antiga Maria Pereira. As terras doadas compreendiam “três
léguas de comprido e uma de largo, meia para cada lado do rio,
para cada um, começando nas testadas de João da Silva Salgado”,
conforme consta às folhas 63v. a 65, do livro 3º das sesmarias.
Os sesmeiros tinham a obrigação de povoar as terras no prazo
de três anos, sob pena de prescrição. Somente Maria
Pereira da Silva, Serafim Dias e o coronel João de Barros Braga
cumpriram a obrigação imposta dentro do prazo previsto,
instalando as suas fazendas, povoando-as de gado vacum e cavalar e construindo
casas de morada. Dos três, apenas João de Barros Braga não
fixou residência nas suas terras, tomando posse das mesmas através
dos seus vaqueiros.
Predominantemente
os municípios nordestinos nasceram nos pátios das fazendas
de criar, a partir da ocupação das terras devolutas, mediante
a concessão das sesmarias. O município de Mombaça,
via de regra, também teve o seu povoamento caracterizado pela ocupação
destas terras para a prática da atividade agro-pastoril. Como bem
define o saudoso Prof. Francisco Alves de Andrade e Castro, cujo 1º
centenário de nascimento ocorreu no último dia 21 de novembro,
no seu poema Saga dos Sertões de Mombaça:
“Vinham chegando
e logo povoando...
o áspero Capitão
João de Barros Braga,
a legendária
Maria Pereira da Silva
e o português
Serafim Dias
ganharam esta sesmaria
em 1706
com apenas tinta e
papel,
terra que deveriam
garantir
com suor e sangue
e outros deveriam cultivar
com suor e lágrimas...”
Segundo
a tradição e inventários antigos, os primeiros habitantes
do município de Mombaça foram: Maria Pereira da Silva, Serafim
Dias, Pedro de Souza Barbalho, capitão Pedro da Cunha Lima, Rodrigo
Francisco Vieira, Jerônimo da Costa Leite, Antônio de Lemos
Almeida, José de Góes e Melo, Antônio Ferreira Marques,
sargento-mor Cosme Rabelo Vieira, Rafael Pereira Soares, Anacleto Martins
Chaves, João Alves Camelo e Francisco José de Fontes Braga.
No
mesmo poema o Prof. Francisco Alves de Andrade e Castro continua:
“E
veio Pedro Barbalho e o outro Pedro da Cunha Lima,
Antônio Ferreira
Marques,
Rodrigo Francisco Vieira
e o Jerônimo
da Costa Leite.
O tronco ancestral
cresceu mais
com Cosme Rabelo Vieira,
os de Rafael Pereira
Soares do Coquidê,
os de José Góes
e Melo,
os de Fontes Braga
do Aracati,
e, finalmente, entrosando-se
na cadeia,
do velho Clã,
Anacleto Martins Chaves
dos Inhamuns.”
Estes
velhos troncos familiares foram os responsáveis pela colonização
e povoamento dos sertões de Mombaça e deles descendem a
maioria das famílias mombacenses.
Entre
a concessão da primeira sesmaria no ano de 1706 e o final do século
XVIII pouco se conhece sobre a história mombacense. Segundo o memorialista
mombacense, ex-prefeito municipal de Mombaça e ex-deputado estadual,
Augusto Tavares de Sá e Benevides, em sua obra Mombaça
– Biografia de um sertão: “Concedidas as terras
de Sesmarias, implantaram-se as Fazendas de criação de gados,
consolidando-se o domínio sobre as posses firmadas.”
Conforme
a tradição oral, Maria Pereira da Silva atraía os
viajantes em demanda do litoral à sua fazenda denominada de Boca
da Picada, depois fazenda Maria Pereira (onde hoje está situada
a sede do município), por sua hospitalidade, servindo de pouso para
os viajantes e repasto para os animais.
Por
ser considerada a fundadora daquele núcleo populacional, quando
da elevação do povoado à vila, no ano de 1851, seu
nome foi dado à vila recém criada. Augusto Tavares de Sá
e Benevides acrescenta que “A sua casa residencial (...) ficava
quase no centro da atual praça principal da cidade, nas proximidades
da antiga Capela e atual Matriz.”
Maria
Teresa de Souza, filha de João da Cunha Pereira e Maria Pereira
da Silva, já viúva do português Pedro de Souza Barbalho,
foi quem por escritura pública de 24 de janeiro de 1781, fez a
doação de “cem braças de terra no sítio
Maria Pereira, à margem do rio Banabuiú, que possuía
por doação que lhe fez o mesmo Pedro de Souza Barbalho,
para patrimônio de uma Capela sob a invocação de Nossa
Senhora da Glória, Capela esta que pretende erigir com autorização
do Ordinário e para seu rendimento e para que possa subsistir enquanto
o mundo for mundo, e ainda mais cem palmos no mesmo sítio para
o adro e corredores da mesma Capela”. Na mesma escritura, Antônio
de Lemos Almeida e sua mulher Eugênia Gonçalves de Carvalho,
residentes na fazenda Onça, doaram também ao patrimônio
da Capela, meia légua de terra no riacho Aba da Serra e mais trinta
vacas e um touro. Assinaram a mencionada escritura como testemunhas o
sargento-mor Pedro de Abreu Pereira e Jerônimo da Costa Leite, ricos
fazendeiros dos sertões de Mombaça.
Com
a criação da freguesia em 6 de setembro de 1832, desmembrado
o seu território da antiga freguesia de Santo Antônio de
Quixeramobim, o distrito passou a ser chamado de freguesia de Nossa Senhora
da Glória de Maria Pereira, compreendendo os territórios
dos atuais municípios de Mombaça, Pedra Branca, Senador
Pompeu e Piquet Carneiro.
A
pequena povoação de Maria Pereira que fora desmembrada da
vila de Quixeramobim, sob protestos da mesma, e elevada à categoria
de vila através da Resolução ou Lei nº. 555,
de 27 de novembro de 1851, sancionada pelo então presidente da
província do Ceará, Dr. Joaquim Marcos de Almeida Rego,
amanhecera em festa: era o dia 15 de janeiro de 1853.
No
ano anterior, a 7 de novembro, em eleição tumultuada que
deveria ter acontecido no dia 7 de setembro (consta que o presidente Rego
arbitrariamente prorrogara a eleição da câmara e de
juízes de paz desta freguesia para que o padre Antônio José
Sarmento de Benevides pudesse assisti-la), o Partido Conservador elegeu
os sete vereadores que comporiam a 1ª Câmara Municipal da nova
vila. Segundo o jornal “O Cearense”, de tendência liberal,
foi necessário reforçar o destacamento com uma tropa de
linha para que o padre Sarmento (deputado provincial em oito legislaturas)
não deixasse entrar na igreja, local da votação,
um só oposicionista, além de processarem clandestinamente
o coronel Rodrigo Francisco Vieira e Silva (bisavô paterno do ex-prefeito
municipal de Mombaça Walderez Diniz Vieira [1977-1983]), líder
do Partido Liberal, para que o mesmo não pudesse comparecer à
eleição.
Feita
a apuração, saíram eleitos vereadores: Manoel Procópio
de Freitas, José Joaquim de Sá e Benevides, José
Gonçalves de Carvalho, Antônio Cláudio de Almeida,
Francisco Aderaldo de Aquino, João Alves de Carvalho Gavião
e Francisco de Góis e Melo, todos filiados ao Partido Conservador.
Continuando,
o Prof. Francisco Alves de Andrade e Castro, descreve:
“Padre
Sarmento Benevides,
nomeado Vigário
da Freguesia
de Nossa Senhora da
Glória,
trazendo família
letrada
e política da
Paraíba,
recomendou a enxertia
do seu Clã no
outro Clã.
Fazendo
eleições dentro da Igreja
o presbítero
de Nosso Senhor,
Conselheiro da Ordem
de Cristo,
elegeu-se deputado
em oito legislaturas
da Assembléia
Provincial, (...)”
O
ano de 1853 se prenunciava como regular, com chuvas suficientes para fazer
correr os rios e encher as lagoas, proporcionando pasto para os animais
e legumes para os habitantes da vila de Maria Pereira.
A vila, segundo Thomaz
Pompeu de Sousa Brasil, no seu Ensaio Estatístico da Província
do Ceará, “é um pequeno povoado desvantajosamente
situado n’uma baixa, à margem do rio [Banabuiú], com
umas 80 casas e uma pequena igreja, que serve de matriz. Tem duas escolas
primárias, uma para o sexo masculino e outra para o feminino.”
Por
volta das nove horas da manhã, sob uma temperatura de aproximadamente
30,5º C, do dia 15 de janeiro de 1853, os vereadores Manoel Procópio
de Freitas (bisavô paterno do ex-vereador Francisco Sidrião
de Alencar Freitas, popularmente conhecido como Chico Alencar), que seria
o seu 1º presidente, João Alves de Carvalho Gavião,
José Gonçalves de Carvalho, José Joaquim [de Sá
e] Benevides e Antônio Cláudio de Almeida se reuniram na
casa destinada para a Câmara Municipal, conforme descreveu o secretário
Julião Antônio Guimarães na ata de instalação
da nova vila de Maria Pereira. Naquela data, a Câmara Municipal
tomou posse e entrou em exercício, assim como, de fato, instalou-se
a nova vila, emancipando-se político-administrativamente da vila
de Quixeramobim.
Além
dos já mencionados, estavam presentes na sessão solene que
oficialmente instalou a vila de Maria Pereira, atual Mombaça, o
padre Antônio José Sarmento de Benevides, o padre Luís
Barbosa Moreira, João Abreu de Carvalho Tatajuba, Bernardino Lopes
de Morais, Francisco Aderaldo de Aquino (bisavô materno do ex-governador
do Estado do Ceará Plácido Aderaldo Castelo [1967-1971]),
Antônio Benedito de Paula, José Vitorino de Lima Galuxo,
Manoel Rabello Vieira, Francisco Pedro de Freitas, José Ferreira
Marques, José Franklin, Antônio Lourenço Tavares Benevides,
Fructuoso Lopes de Fontes Braga (trisavô paterno do ex-senador e
atual deputado federal Carlos Mauro Cabral Benevides), Manoel Joaquim
Cavalcante, Antônio de Lemos Almeida, José Francisco de Menezes
e Francisco de Goes e Mello.
Na
data de hoje, 27 de novembro, comemoramos o 162º aniversário
de fundação do município de Mombaça, mais
de um século e meio de uma História construída pelo
trabalho e pela dedicação de todos nós, munícipes,
naturais ou não, acolhidos pela hospitalidade desta terra que nasceu
sob as bênçãos de Nossa Senhora da Glória.
(Memorial Histórico de Mombaça lido durante a Missa em Ação
de Graças realizada na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória,
na noite do dia 27 de novembro de 2013, em comemoração ao
162º aniversário de fundação do município
de Mombaça).
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