HISTÓRIA

Rua José Frutuoso de Sá e Benevides, antiga Rua Joaquim Távora, no Centro de Mombaça (Imagem Artificial gerada pelo ChatGPT sobre fotografia original).
1970: SECA EM MOMBAÇA
Publicado em 01/07/2025.
Seca de 1970 em Mombaça: agricultores se aglomeram em frente à delegacia de polícia buscando uma solução para os males causados pelo fenômeno climático da seca que, de tempos em tempos, assola o Nordeste brasileiro.
Segundo o Prof. Dr. Elimar Pinheiro do Nascimento, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), no prefácio do livro "O poder dos donos: planejamento e clientelismo no Nordeste", de autoria de Marcel Bursztyn (Garamond, 2008): "Pouco mudou, igualmente, a relação entre o Estado, os políticos e a população mais pobre. A introdução do Programa Bolsa Família e a suspensão das frentes de combate à seca ajudaram a "matar" o coronel e seu clientelismo, mas criou um clientelismo estatal, menos pessoal, mas similarmente danoso. O Estado, assim, permanece personalizado e "endeusado", sempre na figura do chefe."
O primeiro prédio à direita é a mercearia “O Etevaldoâ€, de propriedade do Sr. Etevaldo Lima Cruz (1935-2010), pai do editor deste site, localizada na esquina das ruas José Frutuoso de Sá e Benevides e Dona Anésia Castelo Meireles. O terreno à frente é o local onde foi construído, ainda na década de 1970, o prédio da agência do Banco do Brasil.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), de acordo com o Censo Demográfico (VIII Recenseamento Geral -1970), a população do municÃpio de Mombaça, em 1970, era de 40.789 habitantes, dos quais 18.181 residiam na sede do municÃpio.
O jornal carioca "Correio da Manhã", em sua edição de 14 de abril de 1970, abordou a problemática da seca com uma matéria sob o título "Não é só no Ceará, é no Nordeste", onde o município de Mombaça foi destaque. Abaixo seguem trechos da referida matéria, mantendo-se a grafia original:
"Se não chover dentro de 72 horas tôda a população da cidade de Mombaça, no interior do Ceará, deverá abandoná-la, porque estará esgotado o estoque de gêneros alimentícios."
A previsão é do prefeito de Mombaça [José Marques de Sousa], cidade onde o problema da sêca é o mais grave de todo o Estado do Ceará. Mas não é muito maior do que em Tauá, Independência, Campos Sales, Crateús e Sobral.
"Que os homens se reúnam, mas sem armas." A frase está escrita em letras grandes, na sala principal da delegacia policial de Mombaça, localizada a 300 quilômetros ao sul de Fortaleza. Está chamando os flagelados, cêrca de 800, vindos do interior, para receberem a ração do dia: rapadura e farinha.
Muitos casos de desidratação ocorreram entre os flagelados, e a única farmácia de Mombaça atende precariamente aos doentes. A partir de hoje, segundo promessa do governador do Estado [Plácido Aderaldo Castelo] ao prefeito da cidade, deverão chegar alimentos para os flagelados.
O delegado Odolino Pereira Leite, com cinco soldados, é que mantêm a ordem entre os flagelados, que já tentaram várias vêzes saquear algumas lojas. Mas o delegado Odolino evita sempre usar a violência contra êles: "O problema dêles é fome, e se a gente der alimentos êles não fazem nada. São gente muito boa."
Fonte: Jornal "Correio da Manhã", Rio de Janeiro, terça-feira, 14 de abril de 1970, 1º caderno, página 10.
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