HISTÓRIA

Mombaça na década de 1960
ORIGEM
DO NOME
Desde
o seu descobrimento, o sertão compreendido entre “Os Inhamuns
e o extenso platô ou alto sertão de Quixeramobim, encimado
pela serra de Santa Rita e por um cordão de serrotas baixas justamente
onde mais se abatem os ramos da cordilheira circular da Ibiapaba, na curva
S.E.”, foi conhecido sempre pela denominação de Mombaça,
vocábulo alienígena. “Mombaça, cidade antiga,
na costa oriental da África, duzentos e cinqüenta quilômetros
ao norte de Zanzibar. Foi no século XVI a capital de um sultanato
semi-independente, sob a soberania portuguesa. Foi depois capital do Sultanato
de Zanzibar e é hoje um porto da Quênia britânica,
na ilha de Mombaça; quarenta e quatro mil habitantes. Pela primeira
vez foi esta ilha visitada por Vasco da Gama em 1498 e tomada por D. Francisco
de Almeida em 1505; ficou em poder dos portugueses que a perderam durante
a dominação hespanhola”. (1) O motivo por que designa
o sertão cearense, esclarece-o a tradição. Reza esta
que, no fim do século XVII, o primeiro português que chegou
àqueles centros da Capitania estivera antes em Mombaça,
na África. Notando grande semelhança entre aquela porção
do território africano e a região cearense, deu a esta o
nome por que desde então é conhecida. Inicialmente, quando
procurava descobrir as origens do nome, apesar de conhecer a tradição
acima citada, cheguei a admitir a hipótese que o nome Mombaça
provinha de um fruto acre, assim denominado, que no Brasil é empregado
como adubo culinário, fruto de duas plantas da família das
Palmáceas - ASTROCARYUM HUMILI VALL e ASTROCARYUM MUMBAÇA
-, mas a hipótese logo desapareceu porque não há
nenhuma notícia da existência de tal planta ou fruto naquele
sertão. Fiz indagações continuadas durante muito
tempo, sem qualquer resultado. A tradição do nome africano
tem mais consistência e parece perfeitamente aceitável. Opina
o Conselheiro Tristão de Alencar Araripe que Mombaça era
o nome que devia ser dado ao município ao tempo de sua criação,
em 1851, opinião justa e certa, pois, desde seis de setembro de
1832, data da criação da freguesia, passou esta a ser chamada
Freguesia de Nossa Senhora da Glória de Mombaça. Porém,
os legisladores provinciais de 1851 resolveram batizar o novo município
com o nome de MARIA PEREIRA, numa homenagem a Maria Pereira da Silva,
antiga proprietária das terras onde estava edificada a nova Vila,
terras adquiridas por Sesmaria de 12 de outubro de 1706. Depois da República,
pela Lei nº 69, de 9 de junho de 1892, foi o nome mudado para Benjamin
Constant, voltando a denominar-se Maria Pereira, em 1918, em virtude da
Lei nº 1.565, de 21 de setembro daquele ano, e, posteriormente, o
Decreto nº 1.214, de 30 de dezembro de 1943, restaurou o antigo nome
de Mombaça. Milliet de Saint Adolfe registra: Mombaça, freguesia
da Província do Ceará, distrito da Vila de São João
do Príncipe. Era a princípio uma Capela de Nossa Senhora
da Glória, com algumas casas sitas nas margens da ribeira Banabuiú.

Mombaça (1639), manuscrito pintado a aquarela (69x46cm),
de autoria de Antônio de Mariz Carneiro, descreve a Fortaleza de
Mombaça.
Em
interessante trabalho publicado na REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ,
do ano de 1948, sob o título “CONTRIBUIÇÃO
À TOPONOMIA CEARENSE”, o Dr. Florival Seraine, nome de merecido
conceito nas letras e história do Ceará, assim se expressa:
“O nome Mombaça parece-nos transplantado da África,
reprodução no Ceará de um topônimo africano,
a não ser que estejamos em face de mais uma daquelas corruções
ou de um daqueles equívocos ou aproximativos tão comuns
na onomástica de origem popular. O vocábulo figura nos Lusíadas
de Camões, e o Dicionário dos Lusíadas apresenta-o
como cidade africana da costa oriental, entre Quiloa e Melinde e o Dicionário
Geográfico Universal traz: Mombaça, ilha do Oceano Índico,
na costa oriental africana, no Zanzibar. Possuída a princípio
pelos portugueses de 1519 a 1720, depois, pelos ingleses de 1824 a 1826.
Foi visitada em 1497 por Vasco da Gama. Na ilha havia três aldeias
das quais a principal é Mombaça, onde se vêem as ruínas
de sete fortins que os portugueses aí construíram”.
Florival Seraine cita ainda outros nomes de origem afro-negra no Ceará,
como Cafundó, Dendê, Loanda, Mocambo, Cacimba, Batuque, Quilombo
e vários outros. Jacques Raimundo no seu Toponomástico Afro-Brasileiro
registra também Mombaça como designação de
três serras e de um rio no Estado de Minas Gerais e de uma serra
no da Bahia. Além do nome dado ao município cearense, Mombaça
é ainda a designação de uma serra no mesmo município,
também chamada das Guaribas, com limites com o município
de Tauá. Parece-nos certo que o nome é, incontestavelmente,
de origem africana e a tradição ali guardada merece a melhor
acolhida.
(1)
Dicionário Lello Universal, 3º vol., p. 270.
(Fonte:
Mombaça: biografia de um sertão, de Augusto Tavares de Sá
e Benevides)
Música-tema
da página: Odeon, de Ernesto
Júlio Nazareth (1863-1934), pianista e compositor
brasileiro, considerado um dos grandes nomes do "tango brasileiro"
ou, simplesmente, choro.
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