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ARTIGOS
DISCURSO DE LANÇAMENTO DO LIVRO "PADRE SARMENTO DE BENEVIDES:
PODER E POLÍTICA NOS SERTÕES DE MOMBAÇA (1853-1867)"
Padre
Sarmento de Benevides: poder e política nos sertões de Mombaça
(1853-1867)
Segundo
Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.), filósofo,
orador, escritor, advogado e político romano “A história
é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória,
mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos.”
Pretendemos,
na noite de hoje, em que comemoramos o 159º aniversário da
elevação da povoação de Maria Pereira à
categoria de vila, trazer a lume o testemunho do nosso passado e, ao mesmo
tempo, dar vida à memória de uma povoação
cuja história iniciou-se a 12 de outubro de 1706 com a concessão
da sesmaria sobre o rio Banabuiú ao coronel João de Barros
Braga, ao português Serafim Dias e à pernambucana Maria Pereira
da Silva, de quem descendemos por via paterna.
Coincidentemente
no ano em que publicamos a obra “Padre Sarmento de Benevides: poder
e política nos sertões de Mombaça (1853-1867)”
comemoram-se o 100º aniversário da publicação
do livro “Caza de Orátes”, de autoria do insigne Prof.
José Militão de Albuquerque (1883-1973), que dá nome
a uma escola de ensino fundamental localizada no Conjunto Ceará,
em Fortaleza, e o 30º aniversário da publicação
do livro “Mombaça: biografia de um sertão”,
de autoria do notário público, ex-prefeito municipal de
Mombaça, ex-deputado estadual e memorialista Augusto Tavares de
Sá e Benevides (1898-1983), que dá nome a esta casa. Casa
esta tão apropriada para este momento, por ser o lugar onde se
guardam os livros que servem para estudo, leitura e consulta e, também,
por ter sido durante longos anos a sede do legislativo municipal.
Não
os conheci, senão por meio de suas obras. Ao memorialista Augusto
Tavares de Sá e Benevides (1898-1983) devo a paixão pela
história mombacense. Aos meus 12 anos de idade, por volta de 1981,
ao lê-lo, fiquei extasiado e profundamente apaixonado por nossa
história que, conforme descreveu o Prof. Francisco Alves de Andrade
e Castro (1913-2001) em seu poema “Saga dos Sertões de Mombaça”,
a posse destas terras onde hoje se situa a sede do município “foi
garantida com suor e sangue e cultivada com suor e lágrimas”.
Entre
a concessão da primeira sesmaria no ano de 1706 e o final do século
XVIII pouco se conhece sobre a história mombacense.
Conforme
a tradição oral, Maria Pereira da Silva atraía os
viajantes em demanda do litoral à sua fazenda denominada de Boca
da Picada (onde hoje está situada a sede do município) por
sua hospitalidade, servindo de pouso para os viajantes e repasto para
os animais.
Segundo
a tradição e inventários antigos, os primeiros habitantes
do atual município de Mombaça foram: Maria Pereira da Silva,
Serafim Dias, Pedro de Souza Barbalho, capitão Pedro da Cunha Lima
(meu pentavô materno), Rodrigo Francisco Vieira, Jerônimo
da Costa Leite, Antônio de Lemos Almeida, José de Goes e
Melo, Antônio Ferreira Marques, Cosme Rabelo Vieira, Rafael Pereira
Soares, Anacleto Martins Chaves, João Alves Camelo e Francisco
José de Fontes Braga.
Estes
velhos troncos familiares foram os responsáveis pela colonização
e povoamento dos sertões de Mombaça e deles descendem a
maioria das famílias mombacenses.
Com
a freguesia de Nossa Senhora da Glória criada em 1832 já
devidamente instalada, cujo terreno para a construção da
capela, onde hoje se situa a Igreja Matriz, foi doado por Maria Teresa
de Souza, filha de Maria Pereira da Silva e já viúva do
português Pedro de Souza Barbalho, o sexto vigário de Maria
Pereira, Antônio José Sarmento de Benevides, paraibano do
município de Souza, assumiu a referida freguesia em 10 de julho
de 1843, permanecendo nas suas funções até o seu
falecimento, ocorrido em 13 ou 14 de março de 1867.
O
padre Sarmento de Benevides, objeto e figura central desta obra, foi vigário
de uma freguesia que compreendia os atuais municípios de Mombaça,
Senador Pompeu e Pedra Branca, inspetor escolar, chefe local do Partido
Conservador e deputado provincial em oito legislaturas, além de
membro da mesa eleitoral.
Como
bem definiu o político e ex-embaixador do Brasil em Portugal, Dr.
Antônio Paes de Andrade, na apresentação que abrilhanta
a presente obra: “O padre Sarmento de Benevides foi um homem do
seu tempo. Foi padre em uma época em que a grande aspiração
das famílias brasileiras era ter um sacerdote, quando hoje é
ter um médico. Muitos o foram não por vocação,
mas por imposição dos seus pais.”
Para
a Prof.ª Maria da Glória Sá Rosa, uma notável
mombacense, há anos radicada em Campo Grande, onde é considerada
ícone da educação e da cultura sul-mato-grossense
e que nos brinda com o seu prefácio: “No centro da narrativa,
como num palco onde atuavam conservadores e liberais, destaca-se a figura
do padre Sarmento de Benevides, chefe dos conservadores, deputado provincial
em oito legislaturas. É ele o ator principal da peça que
versa sobre a história de uma comunidade na qual as relações
entre clientelismo e política são determinantes para o domínio
político e a ascensão social de determinadas famílias
sertanejas.”
Atribuímos
ao padre Sarmento de Benevides o legado de ter inserido a sua família
no cenário sócio-político do Estado do Ceará,
além da transformação de uma povoação
inóspita em município, colocando-o no mesmo patamar daqueles
que desbravaram os sertões de Mombaça a partir de meados
do século XVIII.
Concluindo,
colocamos à disposição da comunidade mombacense este
despretensioso trabalho historiográfico como um contributo para
a preservação da memória e para a divulgação
da história de Mombaça.
Agradecemos
a todos que, direta e indiretamente, contribuíram para a sua execução
e conclusão, particularmente ao prefeito municipal de Mombaça,
José Wilame Barreto Alencar, amigo de longa data, com quem dividi
os bancos escolares do Centro Educacional Castro Alves, no período
de 1980 a 1986, e as atividades sociais no Leo Clube de Mombaça.
Dedico
esta obra à minha esposa, Elvira Régia, com paixão;
aos meus filhos, João Fernando e Amanda Vasti, a esperança
de continuidade; ao meu irmão, Raugir, meu melhor amigo, por sua
perseverança nos estudos; à minha mãe, Zeneida, por
seu amor e ensinamentos; ao meu pai, Etevaldo, que há sete dias
deixou o plano material, por sua inteireza de caráter, inteligência
e exemplo que foi como esposo e pai, e que, certamente, está feliz
por este momento.
Muito
obrigado!
(Pronunciamento
feito durante a solenidade de lançamento do livro "Padre Sarmento
de Benevides: poder e política nos sertões de Mombaça
(1853-1867)", de autoria de Fernando Antonio Lima Cruz, ocorrida
em 27/11/2010, na Biblioteca Pública Municipal Augusto Tavares
de Sá e Benevides, em Mombaça-Ce).
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