ARTIGOS
LENDA DO RIO LIMA
Tapeçaria
de Almada Negreiros existente
no Hotel de Santa Luzia em Viana do Castelo
“Comandadas
por Décios Junos Brutos, as hostes romanas atingiram a margem esquerda
do Lima no ano 135 aC. A beleza do lugar as fez julgarem-se perante o
lendário rio Lethes, que apagava todas as lembranças da
memória de quem o atravessasse, os soldados negaram-se a atravessá-lo.
Então, empunhando o estandarte das águias de Roma o comandante
chamou da outra margem a cada soldado pelo seu nome. Assim lhes provou
não ser esse o rio do esquecimento.”
Conde
de Bertiandos*
Com
relação ao rio Lima, história e lenda encontram-se
tão interligadas que nem sempre é fácil delimitar
onde acaba uma e começa outra.
Foi
sempre a beleza do rio a provocar encómios e o sentimento de incapacidade
duma expressão condigna a atrair o poder sugestivo da lenda.
Vem
dos velhos tempos o processo. Estrabão designou-o por Beliom e
relata ter ocorrido nas suas margens um episódio militar entre
Túrdulos e Célticos.
Iam
já a atravessá-lo quando surgiu entre os dois povos uma
discórdia.
Lutaram
e foi o sangue do próprio comandante que se juntou ao de muitos
outros a macular a brancura das águas.
Desorientados
ficaram os soldados e, sem comando, se dispersaram pelas margens, em luta
pela sobrevivência.
Lucano
chamou-lhe o “Deus do Tacitus”, em virtude da mansidão
com que corriam as suas águas.
Tito
Lívio denominou-o “Rio do Esquecimento” (“Oblivionis
fluvis ou flumen”).
Surgiu,
então, a sua identificação como Lethes da mitologia,
que tinha o condão de provocar em todos os que o transpusessem
o olvido do passado e da própria pátria.
Campos
Elísios passaram, em conseqüência, a apelidar-se os
que circundavam, isto é, as suas margens.
Mais
semelhantes a jardins, no conceito mitológico, onde, segundo o
testemunho de Políbio, só durante três meses do ano
as rosas não floriam.
E
ainda Estrabão que nos diz ser esta a terra perfeita por qualquer
fugitivo.
Dentro
deste condicionalismo, aqui chegaram um dia, sob o comando de Décios
Junos Brutos, as legiões romanas, com as altivas águias
a tremularem nos pendões.
Vitoriosas
haviam pisado as terras que estavam para sul e propunham-se prosseguir.
Desciam,
a justante, dos lados de Ponte de Lima e teriam iniciado a jornada desse
dia em Vitorino das Donas: “Daqui saiu Bruto pelos campos tão
celebrados com o nome de Elysios a procurar lugar em que com o seu exército
pudesse vadear as cristalinas águas do Lethes tão respeitadas
com a fábula virtude de encantadoras.” (João de Barros,
Antiguidades de Entre Douro e Minho).
Encontravam-se
no lugar da passagem e fácil pareceu ao comandante a travessia.
Nesse
sentido emitiu ordens, mas encarniçada se revelou a resistência
dos soldados, conhecedores como eram dos poderes sortílegos atribuídos
às suas águas.
Não
perdeu ele a serenidade nem achou conveniente procurar convencê-los
por meio de palavras.
Tomou
a bandeira, ergueu-a ao alto, transpôs o vau e, já da outra
margem, a muitos chamou pelo nome e incitou a seguirem-lhe o exemplo.
Por
esse meio os convenceu de que, afinal, não era verdade o que a
lenda propalava.
Assim
exaltado nos advém, das mais longínquas eras, o fascínio
deste rio que até aos nossos dias tem sido cantado por todos quantos
puderam contemplá-lo.
*Conde
de Bertiandos, in Lendas, 1898.
Vila
de Ponte de Lima, a mais antiga de Portugal, terra natal do capitão
Pedro da Cunha Lima, pentavô materno do editor deste site, um dos
primeiros habitantes de Mombaça. (Foto: Amândio de Sousa
Vieira)
O
rio Lima, nasce no monte Talariño (altitude de 975 metros) na freguesia
de Paradina, nos contrafortes da Serra de San Mamed, na província
de Orense, na Espanha.
Entra
em Portugal próximo do Lindoso a uma altitude de 275 metros e deságua
em Viana do Castelo.
A
bacia hidrográfica do rio Lima tem uma área de 2.480 km²
(1.177 km² em Portugal e 1.303 km² na Espanha). O rio Lima tem
uma extensão aproximada de 108 km (67 km em Portugal e 41 km na
Espanha). Engloba os conselhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte
de Barca e Arcos de Valdevez, em território português. A
área restante da bacia distribui-se pelos municípios galegos
de Lovios, Entrimo, Muiños, Lobeira, Bande, Porqueira, Xinzo de
Límia, Calvos de Randin, Blancos, Baltar, Sarreaus, Vilar de Santos,
Reiriz de Veiga, Sandiás, Verea, Transmiras, Xunqueira de Ambia
e Vilar de Barrio.
Vila
de Ponte de Lima é um dos 10 municípios distritos de Viana
do Castelo. Tem uma área de 320 km² e uma população
de 44.454 habitantes. (Foto: Amândio de Sousa Vieira)
Implantada
na região do vale do Lima e debruçada sobre o rio que lhe
conferiu o nome, a vila de Ponte de Lima possui um conjunto de características
paisagísticas únicas que desde sempre conferiram a esta
vila do Alto Minho uma originalidade e uma especificidade muito próprias.
O
seu passado histórico, marcado por uma forte referência medieval
que ainda hoje se vê traduzida no traçado urbano da vila,
teve como suporte uma estrutura econômica baseada no caráter
comercial e mercantil que se viu reforçada, quando a 4 de março
de 1125, a rainha D. Teresa lhe conferiu foral institucionalizando a Feira
que, tal como hoje, se estende pela frente urbana da vila bordejando o
Lima.
Foi
praça forte de D. Pedro e D. Fernando e desempenhou um papel importante
no tempo da reconquista com D. João I. O rio, ponto de referência
e eixo ordenado da vila, foi até ao dealbar do século XX
uma via de comunicação muito ativa, estabelecendo a ligação
da vila com os centros urbanos do litoral e do interior do vale. Atravessado
por uma ponte medieval, construída a partir de uma romana, estabeleciam-se
os contatos entre as duas margens e permitia a ligação da
vila, por terra a outras paragens, tendo muitas vezes servido como passagem
obrigatória dos peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.
Ombreou
com Viana do Castelo na gesta dos Descobrimentos e mais tarde conquistou
supremacia econômica mercê dos lucros comerciais que granjeava
com o açucar e com o ouro brasileiro.
Nunca
Ponte de Lima, esqueceu as suas tradições – o artesanato,
a gastronomia, as festas e romarias, as feiras novas, a Vaca das Cordas,
a Serrada da Velha, a queima do Judas, entre muitas outras – que
aliadas às lendas e crenças da população,
originaram uma cultura popular muito marcante, que conferiu a Ponte de
Lima um lugar ímpar e de destaque.
(Fonte:
Web site da ).
Música-tema
da página: Fado Tropical, de Francisco
(Chico) Buarque de Hollanda (*19/06/1944, Rio de Janeiro-RJ),
compositor, intérprete, poeta, dramaturgo e romancista e de Ruy
Guerra (*22/08/1931, Lourenço Marques, hoje Maputo, Moçambique,
então colônia portuguesa), cineasta, escritor, dramaturgo
e poeta.
Fado
Tropical integra a peça Calabar da dupla
Chico/Ruy que retrata o Brasil do século XVII, sob a invasão
holandesa.
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