NOTÍCIAS
A
VOZ DO PMDB
Por
Guálter George
06/12/2010
Presidente de honra do partido, Paes de Andrade
diz que Eunício Oliveira saiu forte das urnas e deve ser candidato
ao governo em 2014. (Foto: Georgia Santiago)
Aos
83 anos, Paes de Andrade está afastado do Congresso Nacional há
pelo menos oito. Depois de uma sequencia ininterrupta de mandatos como
deputado federal que fizeram dele um dos mais longevos e influentes parlamentares
de Brasília. Com direito, entre 1989 e 1990, a ocupar a cobiçada
presidência da Casa. Uma circunstância histórica o
levou a, na condição de substituto constitucional, assumir
a presidência da República por 13 vezes. O período
deixou marcas importantes, boas e ruins. Dentre as últimas, a até
hoje lembrada viagem a Mombaça, terra natal, que lhe custou fortes
ataques da imprensa nacional.
Nas
negociações
Presidente
de honra do PMDB nacional, Paes diz participar de todas as articulações
que acontecem em Brasília para formação do governo
Dilma Rousseff e, otimista, acredita que será garantida à
legenda uma presença no governo do tamanho de sua importância.
Entusiasmo mesmo ele demonstra, porém, quando analisa o cenário
de futuro do Ceará. Ao ponto de considerar o deputado federal,
senador eleito e seu genro, Eunício Oliveira, candidato natural
ao governo em 2014. Para ele, a votação recorde em 2010,
o vínculo com o atual governador, Cid Gomes, e a perspectiva de
uma presença nacional forte, fazem de Eunício um nome desde
já colocado para a próxima disputa.
O
POVO conversou com Paes de Andrade na manhã da última
quinta-feira, no apartamento dele em Fortaleza. Confira os trechos principais.
O
POVO - Qual será o papel do PMDB no futuro governo Dilma
Rousseff?
Paes
de Andrade - Nós ficamos revoltados quando se diz que
o PMDB anda à busca de posições no futuro governo.
O que queremos é que o partido tenha condições de
desempenhar o papel que seu tamanho exige e, até o momento, a presidente
Dilma tem sido absolutamente correta conosco. Ela tem honrado todos os
compromissos feitos e inexiste uma situação que justifique
se tentar colocar o PMDB numa postura fisiológica. O que o partido
quer é participar, e vai participar, com a força que tem,
com a história que tem.
O
POVO - Qual seria o tamanho dessa participação?
Quantos ministérios, por exemplo? Há um número?
Paes
– Nós não estamos preocupados com ministérios.
O que nos preocupa, repito, é uma participação no
governo que justifique o PMDB colocado com sua história, com sua
força, seu passado. Nada de fisiologismo.
O
POVO -O senhor ressalta que o PMDB é o maior partido do
País, e os números confirmam isso. No entanto, não
consegue viabilizar uma candidatura forte à presidência da
República, como novamente aconteceu em 2010. Por quê?
Paes
– Eu trabalhei por uma candidatura própria agora, na condição
de presidente de honra nacional do partido. Primeiro com o Itamar (Franco,
hoje eleito senador pelo PPS de Minas Gerais), depois com o Pedro Simon
(senador pelo Rio Grande do Sul, no meio do mandato).
O
POVO – Por quê, enfim, o PMDB não viabiliza
uma candidatura?
Paes
– O Itamar, inicialmente sugerido, era um grande nome e minha expectativa
era que ele sustentasse a bandeira. O que não aconteceu, ele recuou...
O POVO
– Acabou, inclusive, mudando de partido.
Paes
– Exato, para ser candidato ao Senado pelo PPS, ao lado de Aécio
(Neves, ex-governador de Minas Gerais e senador eleito pelo PSDB). Depois,
começamos a trabalhar com o nome do Simon, que, em determinado
momento, também retira a candidatura.
O
POVO – Eram nomes eleitoralmente viáveis na avaliação
do senhor?
Paes
– Claro. O Simon é um homem extraordinário, só
que, no andar das coisas, não segurou a ideia. Então, são
coisas dessa natureza...
O POVO
– O movimento pela candidatura própria que o senhor apoiou
tem a ver com algum nível de insatisfação com o governo
Lula?
Paes
– Não. O presidente Lula honrou o mandato que tem, foi correto.
Aliás, até houve um momento em que o Aécio estava
em Portugal e eu, embaixador do Brasil no país à época,
o hospedei na residência oficial. Ele, então, ficou lá
na suíte presidencial e nós conversamos muito até
que, em determinado momento, ele disse que iria voltar para sua casa, que
era a casa do seu avô (Tancredo Neves). Eu disse que tudo bem, era
um caminho natural e comecei a tratar da possibilidade de sua filiação
ao PMDB.
O POVO
– O senhor chegou a tratar disso com o Aécio?
Paes
– Exatamente, na residência do embaixador, onde ele se encontrava
hospedado. Ele, então, disse que só tinha receio da possibilidade
de, depois, o partido colocar um autêntico pra disputar uma indicação
como candidato à presidência. De lá íamos para
o Porto, cidade litorânea de Portugal, e eu adiantei pra ele que
iria colocar o assunto para o presidente Lula. Quando chegamos lá,
disse ao Lula que o Aécio admitia voltar para o PMDB e perguntei
como ele se colocaria diante do quadro. O Lula disse que seria o seu candidato,
caso entrasse no PMDB. ‘Você será o meu candidato’,
disse o Lula, dirigindo-se ao Aécio. Acho, então, que ele
perdeu uma grande oportunidade porque, talvez, fosse hoje o presidente
da República. Em relação ao medo dele, de um histórico
ser lançado dentro do PMDB, era infundado porque o sentimento de
Minas Gerais em defesa dele cresceria, certamente, tornando o seu nome
imbatível.
O POVO
– Para o senhor, já considerado o cenário definido
de eleição de Dilma Rousseff, quais os grandes desafios
que ela enfrentará, começando pelo fato de suceder um presidente
que deixa o cargo com a popularidade em alta.
Paes
– O Lula é um homem extraordinário, está com
uma aprovação altíssima, de fato, e, pra mim, tudo
isso só facilita a situação para ela já que
os dois estão juntos. Não há dificuldade, a Dilma
agora...
O POVO
– Não há um risco de ele virar uma sombra incômoda
para ela?
Paes
– Não, o entrosamento dele com ela é perfeito, não
haverá sombra nenhuma. Haverá, acredito, é o aprofundamento
do entendimento entre ambos.
O POVO
– Na reacomodação geral de forças políticas
que acontecerá dentro do novo cenário nacional qual será
o papel do PMDB do Ceará e, em especial, do senador eleito Eunício
Oliveira, atualmente deputado federal?
Paes
– O Eunício obteve uma votação extraordinária,
acima do que teve a presidente, mais até do que o governador. Ele
teve quantos votos? (2.688.833) Ele está muito tranquilo, no meio
de toda essa coisa, para colaborar, vai colaborar, e jamais se colocará
como empecilho para prejudicar o processo. O nome dele está muito
forte e, acredito mesmo, deve ser candidato a governador do Estado do
Ceará daqui a quatro anos. Não sei como as coisas vão
se desenrolar...
O POVO
– Seria um nome natural, segundo o senhor avalia, para a sucessão
do governador Cid Gomes em 2016?
Paes
– Ele pode sim, amanhã, ser candidato...
O
POVO – Quando o senhor levanta essa possibilidade é
por que ela já chegou a ser tratada? O próprio Eunício
manifestou algo nesse sentido?
Paes
- Não, porque ele é muito cauteloso. Eu é que sou
mais audacioso (risos)!
O
POVO – De qualquer forma, para o senhor, o PMDB do Ceará
saiu mais fortalecido das urnas em 2010?
Paes
– O Michel já disse que o Eunício deverá assumir
a presidência nacional do PMDB, depois de seu afastamento para assumir
a vice-presidência da República. Algo que, claro, já
facilita. O resto dependerá da condução que ele vier
a dar, mas, de qualquer maneira, a tendência é que o Eunício
saia mais forte ainda.
O POVO
– Inclusive para os embates estaduais, cá no Ceará?
Paes
– Claro. O Eunício já é o presidente do partido
no Ceará, tem a votação expressiva que obteve agora
na campanha ao Senado, tem uma boa articulação com o governador.
O POVO
– Seria, portanto, um nome natural para disputa pelo governo estadual
em 2014?
Paes
– Ele pode até não achar, mas eu acho (risos).
O
POVO – Vamos falar um pouco de trajetória histórica.
Como é que se deu a entrada do senhor na política?
Paes
– Fui eleito deputado estadual com 21 anos. Logo em seguida ocupei
a secretaria de Agricultura, foi um momento de grande importância,
fui secretário da Fazenda...
O
POVO – Da Fazenda?
Paes
– É, porque o Renato Braga era o titular da Fazenda e teve
que pedir licença, que demorou muito a chegar. Enquanto isso, então,
fui secretário da Fazenda. Tentei dignificar todos os cargos que
ocupei, o que terminou me dando muita força e experiência...
O POVO
– O senhor já fazia política no movimento estadual.
Paes
– Sim, eu era estudante quando me elegi pela primeira vez. Era da
UNE, União Nacional dos Estudantes, como vice no Ceará do
José Augusto Amaral de Souza, que depois viria a ser governador.
Passei, então, três anos como deputado estadual, tudo nos
anos 50. Então, quando veio a, chamada, União pelo Ceará,
fui candidato a deputado federal. Meu sogro, Martins Rodrigues, era ministro
e, junto com ele, consegui me eleger deputado federal. Nós dois
fomos eleitos. Dentro da União pelo Ceará, de forma que
cheguei muito cedo à Câmara dos Deputados. Lá chegando,
fui para o grupo chamado de “autênticos”, ao lado do
Chico Pinto e de outros nomes extraordinários. Foi algo muito importante
pra mim que passei por muitas dificuldades, deveria ter sido cassado,
inclusive, mas a verdade é que não fui.
O POVO
– O senhor saberia, hoje, as razões pelas quais não
foi cassado, já que tem consciência de que isso poderia ter
acontecido?
Paes
– Tarso Dutra era um homem muito ligado ao Martins Rodrigues, meu
sogro. Um dia eu estava em casa, muito preocupado, quando tomo conhecimento
de um Ato Revolucionário com várias cassações
de deputados. Meu nome não constava ali, o que me causou estranheza.
Estava lá todo o pessoal com o qual eu me articulava, o Padre Vieira
chegou a ir lá em casa me confortar, dando-se como certa minha
cassação, e ele foi o primeiro a ser cassado. Foi, então,
que saiu uma lista extra e lá estava o nome de Antonio Vaz de Andrade.
Eu me encontrava na chácara do Júlio Rodrigues, a Zildinha
(Zilda Paes de Andrade, mulher do deputado) estava grávida da Patrícia,
pedi coragem a ela, antecipando que seria cassado etc. A polícia,
enquanto isso, cercava o local. Todos os deputados que estavam ali foram
cassados e depois que saiu também o nome do tal Antonio Vaz de
Andrade, a polícia deixou o local. Muito tempo depois, quando assumi
a presidência da República pela primeira vez, durante uma
viagem do Sarney ao Japão (presidente entre 1986 e 1990), chamei
o então chefe do SNI (general Ivan Sousa Mendes) e disse que queria
todas as fichas envolvendo o meu nome, em todos os órgãos
do governo. Ele resistiu inicialmente, disse que eu era presidente da
República naquele momento, era Chefe Supremo das Forças
Armadas etc, que eu não devia lhe pedir aquilo. O interrompi e
disse que não estava pedindo, estava lhe passando uma instrução.
Diante disso, ele trouxe. E lá estava o Antonio Vaz de Andrade.
Aquilo foi um negócio sério.
O POVO
- O senhor pode ter sido salvo da cassação, portanto, devido
a um erro do tipo, ortográfico muito possivelmente?
Paes
– Por isso mandei buscar o processo. Não só esse,
a orientação era para que fossem levados até a mim
todos os documentos. No Exército, lá, tinha que eu recebia
apoio dos comunistas, mas não é comunista. Quando vi o relatório
da Marinha, porém, era horrível, me colocava na condição
de comunista confesso e que só aparecia nos momentos difíceis
para cumprir missão do partido. Nunca fui comunista! Recebi o apoio,
e com muita honra, de todas as forças de esquerda da época
no País.
O
POVO – Ainda em relação às memórias,
como o senhor analisa hoje o episódio de 1985, quando perdeu uma
disputa pela prefeitura de Fortaleza em que o favoritismo de sua candidatura
foi até o dia da eleição?
Paes
– Fui dormir eleito prefeito de Fortaleza. Passei na casa do Gonzaga
(Mota, então governador do Ceará), que estava me apoiando,
e projetávamos naquele momento 30 mil votos na frente. De manhã
cedo, quando acordei, a Maria Luiza (candidata do PT, que seria vitoriosa)
estava empatada comigo. Imaginei, comigo mesmo: a eleição
está perdida! E, de fato, a Maria Luiza ganhou por uma pequena
diferença de votos.
O POVO
– Na mesma época, um ano depois, aconteceria outro momento
histórico do qual o senhor participou ativamente que foi a eleição
do empresário Tasso Jereissati como governador do Ceará
pela primeira vez...
Paes
– Nosso candidato, meu candidato.
O
POVO – Candidato do senhor, exatamente. O que é
que aquele Tasso ganhou desde então, de qualidade e de defeito,
inclusive para justificar o fato de hoje ele ser adversário?
Paes
– Ele, como governador pelo PMDB, fez uma gestão correta.
Depois, optou por outras vias, outros caminhos, e o fato é que,
a partir dali, em toda eleição minha ele tentava desmanchar.
Era uma coisa terrível, porque eu estava sendo candidato numa hora
difícil. Na primeira hora, no primeiro mandato após ser
eleito governador, não, ele votou comigo, mas, em seguida, veio
a eleição do Beni Veras e o Tasso entrou pra me derrotar
e, de fato, me derrotou.
O POVO
– O governador Cid Gomes avalia que o senador Tasso Jereissati é,
hoje, o maior político vivo do Ceará. O que o senhor acha
disso?
Paes
– Ele não repete mais isso não.
O
POVO – Ele tem repetido.
Paes
– Não repete mais.
O
POVO – Mas, o senhor concorda ou discorda?
Paes
– Há coisas que me levam a concordar, outras que não.
O
POVO – O governador comete alguma injustiça com
alguém, o senhor acha, ao apontar o Tasso?
Paes
– Não li essa declaração, mas, acho, ele não
a repetiria hoje.
O
POVO – Quem é, na visão do senhor, o maior
político cearense vivo?
Paes
– A Dilma.
O
POVO – Mas ela não é cearense.
Paes
– Ela é universal (risos). E há o Lula, também.
(Fonte:
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